terça-feira, maio 31, 2005

 

Os meus anseios de português típico

Eu sou um português típico e, como tal, tenho atitudes e raciocínios típicos.
Por exemplo.
Perante esta confusão toda de termos um défice cada vez maior depois de vários anos a apertar o cinto, quero, em primeiro lugar, descobrir de quem é a culpa, não propriamente porque é que isso aconteceu. Quero um culpado. Quero eu e querem também os deputados da Assembleia da República que se atiraram imediatamente ao problema descobrindo um culpado por cada partido que já esteve no governo.
É lá caso para nos pormos a discutir as melhores medidas para resolver o problema? Não, dêem-me um responsável e poderemos todos dormir descansados.
Sendo evidente que se gasta mais do que entra nos cofres do Estado, quero que se apliquem medidas urgentes e drásticas… ao vizinho do lado. E todos concordam comigo: os sindicatos acham que se deve ir buscar dinheiro aos patrões e estes acham que devem ser os trabalhadores a suportar os sacrifícios. Os privados acham que se devem despedir os funcionários públicos inúteis e estes, bem como os úteis, acham que o sector privado é que não produz o suficiente.
Sobretudo, acho que não se devem aumentar impostos nenhuns, porque faz-me diferença. A mim e a todos os portugueses que têm três telemóveis, que aceleram a fundo quando cai o verde (obtendo assim uma nítida poupança de combustível), que compram sistemas de cinema em casa para verem a quinta das badalhocas, que enchem os restaurantes ao fim de semana, que compram roupas de marca, carros de luxo, férias no Brasil a prestações, vivendas de luxo em zonas caras, etc.
Exijo reformar-me com 35 anos de serviço e ordenado por inteiro: quem vier a seguir que pague a crise.
E se os nossos velhos definham de fome, se os jovens não arranjam trabalho, se os despedidos enfrentam um futuro negro, sirvam-lhes um culpado mal passado que fica tudo resolvido.
Mas, por favor, não mexam nos meus privilégios, não mexam nos privilégios de nenhum de nós: atirem-se aos privilégios do nosso vizinho do lado e ele que faça os sacrifícios.
Então o culpado ainda demora muito? É que a situação está preta!

 

As vacas sagradas

Não, não vos vou moer a cabeça com as vacas indianas.
Vou falar-vos de duas vacas sagradas, sendo que uma é mais sagrada que outra.
1ª Vaca sagrada: Cavaco Silva
Na boca de muitos, o melhor político que existiu depois da Revolução dos cravos. Um autêntico génio que guindou este país à senda do progresso, para depois virem uns malvados que estragaram tudo. É claro que os milhões pagos a empreiteiros para anteciparem a conclusão de obras para poderem ser inauguradas a tempo dos actos eleitorais, com a reprovação do Tribunal de Contas (uma das grandes forças do bloqueio), é uma coisa de importância secundária.
Os desmandos da polícia na Ponte 25 de Abril e nas Caldas da Rainha, também constituíram um acidente de percurso.
Evidentemente que as afirmações do seu ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, autor da reforma fiscal que introduziu o Irs/Irc e o Iva, acabando com uma série de outros impostos, segundo o qual foi a actuação dessa vaca sagrada que gerou o ponto de partida do actual défice, também não têm peso nenhum.
Para figuras como o Prof. Marcelo, este é o homem ideal para ajudar o actual governo: de facto poderá ter um papel fundamental a explicar como é que não se faz.
2ª Vaca sagrada: António Guterres.
Para alguma esquerda, o homem do diálogo, das políticas sociais, o grande timoneiro da esquerda sobrevivente ao espírito do 25 de Abril.
Esquecem-se que ele próprio se esqueceu de governar enquanto Portugal teve a presidência europeia. Que andou desaparecido a partir daí, permitindo o alastramento do lodaçal que, segundo as suas próprias palavras, o levou a demitir-se. Que não teve a coragem para tomar as medidas impopulares que estão na base do crescimento do défice e que têm dado oportunidade à direita de esconder a actuação de Cavaco, acusando Guterres de despesista.
Apesar de tudo, há uma diferença entre estas duas vacas: Cavaco ficou-se pela actuação enquanto primeiro-ministro, sem qualquer convite internacional. Quer isto dizer que, fora das nossas estreitas fronteiras, ninguém, nenhuma organização, lhe reconheceu qualquer mérito ou utilidade.
Guterres, à semelhança do que já tinha acontecido com Freitas do Amaral e Durão Barroso, é escolhido por uma organização internacional.
Parece que nós por cá damos mais valor às vacas que dão muito nas vistas do que os estrangeiros. Ou então andamos a colocar os homens certos nos locais errados.

segunda-feira, maio 30, 2005

 

Tranquilidade II


Foto de Steven Bobo
(Carregue na imagem para ampliar)

 

Tranquilidade I


Foto de Alan Carter
(Carregue na imagem para ampliar)

sexta-feira, maio 27, 2005

 

Reflexão para um fim de semana chuvoso

Não andarei muito longe da verdade se disser que os sacrifícios que têm sido pedidos nos últimos quatro anos serão suportáveis pelos portugueses (ainda que naturalmente contrariados) se existir, pelo menos, a esperança de que têm o objectivo de, a prazo, melhorar a nossa qualidade de vida.
Quer isto dizer que se estas medidas tiverem um carácter excepcional, se forem transitórias e acompanhadas das correcções necessárias das despesas públicas, tendentes a permitir que, dentro de três ou quatro anos, exista o equilíbrio entre o que o Estado recebe e aquilo que gasta, então poderemos dizer que a atitude é correcta e o esforço recompensado.
A questão, no entanto, passa por duas vertentes importantes.
Em primeiro lugar, é necessário que os cortes nas despesas não incidam exclusivamente sobre as prestações sociais, mas preferencialmente na eliminação de tudo quanto é supérfluo nos serviços do Estado. A começar pelos desperdícios dessa casa mal administrada que se chama coisa pública.
Em segundo lugar, não podemos estar permanentemente à espera que a economia internacional se mantenha de boa saúde para termos equilíbrio de contas internas: é urgente que se criem as condições para um desenvolvimento das empresas portuguesas, sem constrangimentos por parte do Estado.
E aí os cidadãos, designadamente os empresários, têm também um papel a desempenhar.
O exemplo tantas vezes propalado da vizinha Espanha, não se deve apenas à actuação dos governos espanhóis. Estes criaram as condições, mas a economia, concretamente os investidores, apostou na criação de empresas no sector produtivo, desenvolvendo um mercado interno pujante e permitindo, a partir daí, o ataque a outros mercados.
Veja-se o insucesso prático dos governos de Cavaco Silva: gastaram-se milhões em formação profissional e não temos qualificação profissional; o Estado injectou quantias messiânicas em obras públicas e a riqueza assim gerada apenas fez engordar o sector especulativo.
Podemos dizer que Cavaco criou as condições e a sociedade não o acompanhou.
A manter-se esta atitude, a não surgir uma mentalidade mais empreendedora, estaremos condenados a um empobrecimento progressivo.
O meu receio, e creio que é o de todos nós, é de que depois de mais um apertar de cinto nos venham pedir mais sacrifícios porque o monstro papão do nosso dinheiro continuou a engordar e a pedir mais comida. Veja-se o que aconteceu com as medidas de Manuela Ferreira Leite...

 

Um erro de 20.000.000 de €

Toda a gente erra.
Muitas vezes é até com os erros que se aprende.
Mas um erro que custa vinte milhões de Euros é demasiado caro, sobretudo quando se erra a fazer aquilo que já se sabia fazer bem, não fossem as invenções...
Colocação de professores provoca prejuízo ao Estado no montante de 20.000.000 de Euros:
LINK
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quarta-feira, maio 25, 2005

 

Foto de Ben Rasmussen

 

Agradecimento aos governos lusos

A 26 de Julho do ano passado escrevi este texto, que agora repito, por considerar perfeitamente adequado aos tempos que correm.
Andamos todos tão contentes, tão agradados com a nossa vida, que não posso deixar de aqui formular o meu agradecimento aos governos lusitanos dos últimos trinta anos. Só recomendo aos senhores titulares de cargos políticos, presentes e passados, que apareçam disfarçados nas feiras, tascas, cafés e autocarros deste país ( enfim, qualquer lugar onde se possam juntar mais de dois portugueses ). É que nos últimos tempos tenho diversificado o meu conhecimento da língua portuguesa ouvindo alguns epítetos que só costumava ouvir no antigo mundo rural quando o gado se desmandava.
AGRADECIMENTO
1. Por nos terem colocado na cauda da Europa ao fim de trinta anos de democracia.
2. Por terem assinado à balda um Pacto de Estabilidade que nos obriga a apertar o cinto quando ainda nem atingimos os mínimos dos outros países europeus.
3. Por terem permitido que os médicos espanhóis que não tem nota para lá trabalharem ocupem os lugares de alunos portugueses que se candidatam com 18 e não entram em Medicina.
4. Por manterem o Estado português como o maior caloteiro nacional.
5. Por transformarem a administração pública numa espécie de asilo para inúteis partidários, geralmente incompetentes.
6. Por tratarem a pátria lusitana como se fosse a sua quinta e os lusos como servos da gleba.
7. Por desbaratarem o dinheiro público - nosso - em obras de fachada, desprezando o essencial.
8. Por colocarem na pasta da Justiça donas de casa com os dentes amarelos.
9. Por manterem um ensino público sem Norte, vagueando ao sabor das "iluminações" partidárias.
10. Por recusarem aos nossos jovens uma educação sexual digna desse nome.
11. Por mudarem os livros de ensino todos os anos.
12. Por sacrificarem fiscalmente os trabalhadores por conta de outrém.
13. Por facilitarem a evasão fiscal.
14. Por proporem numa legislatura aquilo que tinham recusado quando na oposição.
15. Por terem liquidado a agricultura ( a Estremadura espanhola agradece ).
16. Por serem tacanhos e provincianos.
17. Por nos mentirem descaradamente durante as campanhas eleitorais.
18. Por fazerem de nós parvos. Os resultados eleitorais têm demonstrado que não somos assim tão parvos como eles pensam.
19. Por terem os ministérios cheios de gente sem que se vejam resultados práticos.
20. Por ignorarem os dados da ciência.
21. Por, em regra, serem golpistas.
22. Por terem um paleio balofo, para enganar o patego.
23. Pelo funeral de Estado de Maria de Lurdes Pintassilgo ( parecia o de Sá Carneiro! ).
24. Por deixarem arder as nossas florestas.
25. Por deixarem poluir os rios.
26. Por permitirem a especulação fundiária ás mãos de tudo quanto é pato bravo.
27. Por lançarem imposto sobre imposto nos automóveis.
28. Por fugirem quando a coisa fica preta.
29. Por darem ao Paulo Portas a pasta de Ministro do Mar sem o homem saber.
30. Por nomearem como Ministro do Ambiente um licenciado em Direito.
31. Por não terem qualquer consideração por nós que lhes pagamos os ordenados.
Como é que eu explico aos meus filhos, conhecedores de outros países, a inépcia, a negligência, o oportunismo e a incompetência?
Como é que lhes justifico a nossa passividade geral perante este gozo governativo?
Como me desculpo por contribuir para o seu não futuro?
É simples: falo-lhes das últimas contratações do Benfica e promovo-lhes o gosto por telenovelas.
Não resolve, mas distrai...

 

Que surpresa!!!

Há coisas que não se entendem, por mais que os teóricos das finanças públicas nos tentem explicar.
Refiro-me a esta coisa das contas públicas.
Recuemos à tomada de posse de Durão Barroso e recordemos que então o próprio disse que as contas estavam muito piores do que se esperava. Estaria, então, o país de tanga.
Agora, Sócrates diz que a situação é muito pior do que se previa.
Para se saber, mais ou menos, que o défice é de quase 7% foi preciso recorrer a uma comissão extraordinária que, ainda por cima, não pode considerar as contas das autarquias.
Ficam no ar as seguintes questões:
1. Então o Estado português não sabe às quantas anda?
2. Será que a Assembleia da República desconhece, em concreto, as contas públicas?
3. Quando, anualmente, se aprova o orçamento, é através de um acto de fé?
É que, de surpresa em surpresa, qualquer dia estamos com o Iva a 30% sem que o problema de fundo se resolva.
Já não falta muito: são mais quatro mandatos de surpreendidos democraticamente eleitos e chegaremos lá…

terça-feira, maio 24, 2005

 

De regresso à mãe Pátria

Quando regressei a Portugal, no passado mês de Agosto, vinha plenamente convencido que este país precisava de uma política de choque.
Hoje, de novo de regresso, continuo convencido da mesma necessidade.
A principal diferença reside no facto de agora, ao que parece, irmos realmente actuar em conformidade.
Fica-me apenas uma dúvida, quanto à grande questão de saber se estamos ou não desgraçados: irá este governo actuar ao melhor estilo de Ferreira Leite, aumentando apenas impostos sem aplicar qualquer terapêutica complementar?
Creio que todos os portugueses já estão convencidos da dureza dos tempos que se avizinham, resta saber se os sacrifícios exigidos terão o mesmo resultado que tiveram com aquela ministra: depois do aumento de 2% no Iva e do congelamento de salários na função pública, a falta de medidas de fundo transformou isto tudo num mero analgésico que só camuflou a doença.
Na próxima Quinta-feira quero ouvir um plano concreto e não medidas avulsas, sob pena de me pôr aos berros, como no passado.

quinta-feira, maio 12, 2005

 

Foto de Mehmet Tunc

quarta-feira, maio 11, 2005

 

Tráfico de influências? Credo!!!

Esta notícia dos moços pretensamente envolvidos em tráfico de influências é preocupante.
Não pelo crime em si, mas pelo risco que se corre se as investigações forem muito fundo.
Do cidadão comum aos mais altos responsáveis, quem é que nunca meteu uma cunha, quem nunca pediu um agilizar de uma decisão, um jeitito?
Todos sabemos que vivemos no país da cunha: “quem não tem padrinhos morre mouro”!
Não é desejável, mas é a realidade. Serão precisos anos de mudança de mentalidades e uma justiça implacável para podermos entrar no universo da legalidade e da democraticidade.
Mas nesta história, a confirmar-se a acusação, temos alguns aspectos de análise interessante.
Desde logo o facto de estarem envolvidas figuras de proa do CDS/PP. Então não era este o partido que, pela voz de Paulo Portas, era o supra da moralidade, da competência, etc. e tal?
Depois, este ex-ministro de seu nome Nobre Guedes, parece ser um especialista em golpes de rins, em manobras apertadas de gincana para contornar a lei, para atingir objectivos ilegais. Desde a história da casita na Serra da Arrábida que se sabia que o homem é um habilidoso, convencido que vivemos num país de impunidade (cada vez menos, felizmente).
Finalmente porque o Estado, que é o conjunto de todos nós, já saiu prejudicado com esta história toda. Face à impossibilidade de alienação do património público, a Companhia das Lezírias – que é do Estado (nossa) – entregou terrenos para participação numa empresa de investimentos imobiliários. Mais tarde vendeu as acções assim obtidas, por preço inferior ao valor inicial, ao principal accionista da tal empresa imobiliária. Ficaram assim os terrenos no domínio privado sem que, em teoria, tivessem sido vendidos.
Só faltava a autorização para que a enorme mancha de sobreiros aí existentes fosse eliminada. A autorização surgiu assinada por três ministros do anterior governo alguns dias após as eleições.
O actual governo paralisou todo o processo anulando essa decisão.
Conclusões:
1. Não me parece que estas decisões macacas tenham sido tomadas sem contrapartidas.
2. Se investigações deste tipo se tornarem moda, ainda nos arriscamos a ter de criar uma prisão bem grande só para meter todos aqueles que, das autarquias aos governos e Assembleia da República estejam envolvidos em maior ou menor escala em tráfico de influências.
Post-scriptum: porque é que o CDS/PP nunca se preocupou com a violação do segredo de justiça quando eram os membros dos outros partidos a estarem em causa?

quarta-feira, maio 04, 2005

 

O mundo da Maioria


Foto de Sebastião Salgado

Num conjunto de trabalhos intitulado O mundo da Maioria, o fotógrafo Sebastião Salgado faz passar à nossa frente, há muitos anos, um mundo de sofrimento na maior parte das vezes silencioso.
Imagens que não queremos ver, que vêm perturbar a tranquilidade de alguns, enquanto, para outros, reduzem à verdadeira dimensão os seus pequenos problemas de gente que vive nas zonas ricas do planeta, onde não há guerras que não sejam as do consumo ou do estacionamento livre.
Em Portugal a fome ainda não é fotografável, mas a pobreza já poderia fornecer alvos para uma objectiva como a deste repórter do insucesso da solidariedade humana.

 

Foto de Sebastião Salgado

 

Foto de Sebastião Salgado

 

Foto de Sebastião Salgado

 

Foto de Sebastião Salgado

 

Foto de Sebastião Salgado

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