terça-feira, maio 31, 2005

 

As vacas sagradas

Não, não vos vou moer a cabeça com as vacas indianas.
Vou falar-vos de duas vacas sagradas, sendo que uma é mais sagrada que outra.
1ª Vaca sagrada: Cavaco Silva
Na boca de muitos, o melhor político que existiu depois da Revolução dos cravos. Um autêntico génio que guindou este país à senda do progresso, para depois virem uns malvados que estragaram tudo. É claro que os milhões pagos a empreiteiros para anteciparem a conclusão de obras para poderem ser inauguradas a tempo dos actos eleitorais, com a reprovação do Tribunal de Contas (uma das grandes forças do bloqueio), é uma coisa de importância secundária.
Os desmandos da polícia na Ponte 25 de Abril e nas Caldas da Rainha, também constituíram um acidente de percurso.
Evidentemente que as afirmações do seu ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, autor da reforma fiscal que introduziu o Irs/Irc e o Iva, acabando com uma série de outros impostos, segundo o qual foi a actuação dessa vaca sagrada que gerou o ponto de partida do actual défice, também não têm peso nenhum.
Para figuras como o Prof. Marcelo, este é o homem ideal para ajudar o actual governo: de facto poderá ter um papel fundamental a explicar como é que não se faz.
2ª Vaca sagrada: António Guterres.
Para alguma esquerda, o homem do diálogo, das políticas sociais, o grande timoneiro da esquerda sobrevivente ao espírito do 25 de Abril.
Esquecem-se que ele próprio se esqueceu de governar enquanto Portugal teve a presidência europeia. Que andou desaparecido a partir daí, permitindo o alastramento do lodaçal que, segundo as suas próprias palavras, o levou a demitir-se. Que não teve a coragem para tomar as medidas impopulares que estão na base do crescimento do défice e que têm dado oportunidade à direita de esconder a actuação de Cavaco, acusando Guterres de despesista.
Apesar de tudo, há uma diferença entre estas duas vacas: Cavaco ficou-se pela actuação enquanto primeiro-ministro, sem qualquer convite internacional. Quer isto dizer que, fora das nossas estreitas fronteiras, ninguém, nenhuma organização, lhe reconheceu qualquer mérito ou utilidade.
Guterres, à semelhança do que já tinha acontecido com Freitas do Amaral e Durão Barroso, é escolhido por uma organização internacional.
Parece que nós por cá damos mais valor às vacas que dão muito nas vistas do que os estrangeiros. Ou então andamos a colocar os homens certos nos locais errados.

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