quinta-feira, outubro 19, 2006

 

Ah e tal...

Já não bastava o aumento dos juros, da electricidade, dos descontos dos funcionários, o IRS para pensões demasiado baixas, as taxas moderadoras para os internamentos e agora, para acabar de pôr o pessoal de boca aberta e mais baralhado do que já anda, vem o CDS dizer que aborto e interrupção voluntária da gravidez não são uma e a mesma coisa.
Sim, dizem eles, que a interrupção não é definitiva e o aborto é. Pois ainda terão de me explicar como é que uma gravidez interrompida pode ser retomada.
Mas pronto, não basta sermos reconduzidos à miséria de onde verdadeiramente nunca conseguimos sair, como parece que temos de nos conformar com a indigência mental de quem faz política.

quinta-feira, outubro 05, 2006

 

Imperdível

Este post.

 

Foto de Bartsky
Hall de uma estação de Metro em Amsterdão.

 

É uma casa portuguesa...

Dizem as estatísticas – sim, também as temos, seus más-línguas – que estamos com cinquenta queixas de violência doméstica por dia.
Se partirmos do princípio que uma boa parte das situações de violência doméstica nunca chega ao conhecimento das autoridades, então temos os lares nacionais transformados em ringues de pugilato.
A minha Avó é que sabia: casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão!
É da crise…
Ora, como os juros vão voltar a subir, se a minha teoria estiver certa, vamos voltar a ter um aumento nos índices da bolsa de valores da bofetada e da tortura psicológica.
Se a Amália fosse viva, teria de reescrever os versos da “Casa Portuguesa”.

 

O progresso ao virar da esquina

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a iminência da nossa entrada na senda do progresso, teve esta semana oportunidade de as dissipar.
Subitamente, sentimo-nos dentro de um filme de acção, daqueles que reproduzem a realidade de países desenvolvidos, cheios de liberalismo e odes aos louvores da concorrência.
Nós tão deprimiditos e, afinal, o paraíso aqui tão perto.
É certo que ainda não temos assassinos à solta nas escolas, falem eles russo ou inglês. Não temos também cada lar transformado num arsenal, mas a coisa está a compor-se.
Na mesma semana já tivemos uma perseguição policial com tiros, morto e tudo, enquanto pouco faltou para uma transmissão em directo de um sequestro num Banco.
Se isto não é o progresso, onde é que está o progresso?

 
Foto de Stalin Ramesh

quarta-feira, outubro 04, 2006

 

Não lembrava ao diabo

Vivo numa cidade que tem dois hospitais, duas maternidades, não sei quantos centros de saúde e, portanto, estou à vontade para falar sem que se suspeite que estou a defender interesses próprios.
Vem isto a propósito da alteração que se anuncia para a distribuição geográfica dos hospitais.
Se é certo que concordei com o encerramento de maternidades, quer por razões técnicas quer porque não podemos manter equipamentos que fazem um parto por dia, já é para mim fortemente duvidosa a correcção no que respeita ao encerramento de hospitais.
Acho a medida precipitada, porquanto não me parece que estejam criadas as condições para se garantir o transporte de doentes urgentes com a rapidez exigível.
Nem me parece que seja argumento dizer-se que nas urgências existentes se chega a esperar mais de hora e meia para se ser atendido. É justificar-se um disparate com outro.
Aliás, ditaria o bom senso que se instalassem primeiro os equipamentos de transporte de doentes e só depois se questionasse o encerramento de hospitais.
Seja como for, não me parece uma medida boa.
Depois das taxas moderadoras para as cirurgias e internamentos, com uma justificação descabelada, fica-nos agora mais uma prova de que este ministro volta e meia passa-se.

 

Sorte danada

Cada vez mais me convenço que o meu ano não foi bom para se nascer. Senão, vejamos.
Estava eu no primeiro ano da faculdade e levo com o 25 de Abril nas trombas. O resultado foi a maior peluda que se possa conceber, com o pessoal a fazer cadeiras em grupo de trabalho, passagens administrativas e outras rebaldarias. Conclusão: cá o rapaz quando chegou ao terceiro ano teve de estudar a sério as basezitas porque não se estava a entender com a coisa.
Dias felizes esses da revolução. Antevia-se um país moderno, inteligente, libertado do ambiente retrógrado de sacristia.
Afinal, prometeram-nos o céu e serviram-nos um purgatório de irresponsabilidades. Durante trinta anos ninguém nos disse que estávamos a caminhar alegremente para o buraco da falência. Ninguém nos avisou que tudo isto era transitório, que mais cedo ou mais tarde teríamos de redimensionar o país aos termos exactos daquilo que temos e somos.
Foram trinta anos de uma genuína feira de vaidades, de dinheiro fácil para alguns, de estímulo ao consumismo não sustentado para quase todos. Subimos bem alto e, agora, o trambolhão é enorme.
Tivesse eu nascido dez anos mais cedo e estaria agora com uma reforma por inteiro, rindo-me à socapa do maralhal que só vai poder reformar-se aos sessenta e cinco anos. E continuaria a trabalhar. Isso é que era qualidade de vida!
Já não bastavam as convulsões internacionais das quais directa ou indirectamente acabamos por ser vítimas, para ainda termos de nos debater com modificações internas profundas e, por vezes, difíceis de engolir.
Agora, vejo um país incapaz de sustentar os seus equipamentos sociais, de suportar os funcionários que admitiu – não tenho conhecimento que algum funcionário público tenha sido contratado por sua imposição – incapaz também de garantir sem sobressaltos um fim de vida digno para todos.
Entre a grande miséria dos tempos do fascismo e a situação que atravessamos, ainda vai uma grande distância. Por certo não voltaremos a esse ponto. Mas se este país não tomar juízo, não ficaremos muito longe.
A situação de perda de indústrias foi vivida pela Bélgica há dez anos e está agora a ser vivida pela França e Alemanha, mas nesses países tem-se uma noção exacta das funções do Estado. Nós encaramos o Estado como uma espécie de Pai que tem fontes de financiamento que nada têm a ver connosco e que tem a responsabilidade de nos pôr comida na mesa.
Pelo que me toca, já ficaria feliz se o Estado não gastasse 65% do meu IRS no seu próprio funcionamento e o transformasse em serviços prestados à comunidade.
Definitivamente, nasci num mau ano.

 
Foto de Sandra Berry

domingo, outubro 01, 2006

 

A primeira noite tranquila

Um dia viu-se ao espelho das almas e constatou que estava morto.
Respirava, pestanejava e até fazia caretas.
Mas estava morto.
Há muito tempo.
Acontecera quando desistiu de viver a própria vida.
Quando parou de buscar a felicidade ou deixou de se sentir feliz.
Passou então a ser feliz através dos outros.
Sozinho, não conseguia.
Caçou na vida com gatos, por não poder usar o cão.
Ficou a aguardar a primeira noite tranquila.
Não a procurava, aguardava-a.
Procurar o fim seria encontrar a felicidade.
E ele tinha-lhe perdido o rumo.
Só se viesse ter com ele…

 
Solitude de Angel Devil

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