sexta-feira, maio 27, 2005

 

Reflexão para um fim de semana chuvoso

Não andarei muito longe da verdade se disser que os sacrifícios que têm sido pedidos nos últimos quatro anos serão suportáveis pelos portugueses (ainda que naturalmente contrariados) se existir, pelo menos, a esperança de que têm o objectivo de, a prazo, melhorar a nossa qualidade de vida.
Quer isto dizer que se estas medidas tiverem um carácter excepcional, se forem transitórias e acompanhadas das correcções necessárias das despesas públicas, tendentes a permitir que, dentro de três ou quatro anos, exista o equilíbrio entre o que o Estado recebe e aquilo que gasta, então poderemos dizer que a atitude é correcta e o esforço recompensado.
A questão, no entanto, passa por duas vertentes importantes.
Em primeiro lugar, é necessário que os cortes nas despesas não incidam exclusivamente sobre as prestações sociais, mas preferencialmente na eliminação de tudo quanto é supérfluo nos serviços do Estado. A começar pelos desperdícios dessa casa mal administrada que se chama coisa pública.
Em segundo lugar, não podemos estar permanentemente à espera que a economia internacional se mantenha de boa saúde para termos equilíbrio de contas internas: é urgente que se criem as condições para um desenvolvimento das empresas portuguesas, sem constrangimentos por parte do Estado.
E aí os cidadãos, designadamente os empresários, têm também um papel a desempenhar.
O exemplo tantas vezes propalado da vizinha Espanha, não se deve apenas à actuação dos governos espanhóis. Estes criaram as condições, mas a economia, concretamente os investidores, apostou na criação de empresas no sector produtivo, desenvolvendo um mercado interno pujante e permitindo, a partir daí, o ataque a outros mercados.
Veja-se o insucesso prático dos governos de Cavaco Silva: gastaram-se milhões em formação profissional e não temos qualificação profissional; o Estado injectou quantias messiânicas em obras públicas e a riqueza assim gerada apenas fez engordar o sector especulativo.
Podemos dizer que Cavaco criou as condições e a sociedade não o acompanhou.
A manter-se esta atitude, a não surgir uma mentalidade mais empreendedora, estaremos condenados a um empobrecimento progressivo.
O meu receio, e creio que é o de todos nós, é de que depois de mais um apertar de cinto nos venham pedir mais sacrifícios porque o monstro papão do nosso dinheiro continuou a engordar e a pedir mais comida. Veja-se o que aconteceu com as medidas de Manuela Ferreira Leite...

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