quinta-feira, setembro 14, 2006

 

Orgulhosamente originais

Um dos graves problemas que este país sempre enfrentou e continua a enfrentar, são as pessoas.
Não que em substância sejam diferentes dos outros, que tenham algo a mais ou a menos que, à nascença, lhes incuta uma forma especial de estar na vida ou uma atitude particular para encarar os problemas. Mas temos um folclore muito nosso no modo como enfrentamos o trabalho, como assumimos as responsabilidades e como nos pensamos a nós mesmos.
Um dos tiques mais na moda consiste em perguntarmos se este país tem hipótese, se é viável…
Não tenho ideia que exista outra sociedade em que esta pergunta se coloque. O que se põe em cima da mesa é algo bem diferente: como é que podemos ser viáveis, o que é que é preciso fazer.
Outra questão passa por cada um de nós olhar demasiado para o seu umbigo, para os seus interesses domésticos, argumentando de forma brilhante para tentar esconder aquilo que muitas das vezes é óbvio.
Por outro lado, recorre-se com frequência à discussão de uma amálgama de assuntos para, na misturada, se baralharem as questões e aproveitar para dar como provado aquilo que, de facto, não o está.
É o caso das muitas discussões em torno do ensino ou dos professores que, ao meterem todos os níveis de ensino no mesmo saco, só contribuem para que, no final, se obtenha uma conclusão de confusão generalizada sem que se consiga retirar qualquer conclusão construtiva.
Se eu, por exemplo, disser que os professores, até há pouco tempo, tinham na prática três meses de férias por ano, estou a dizer uma verdade e a cometer um erro injusto.
Se eu disser que um professor com quarenta anos de idade pode ter uma redução de horário de trabalho de oito a dez horas volto a errar e a acertar em simultâneo.
É que, na realidade, a grande maioria dos professores beneficiava na prática de três meses de férias, enquanto os outros se viam aflitos para conseguirem concretizar um mês de descanso.
Por mais que me digam que a docência é cansativa, ninguém me conseguirá convencer que esse cansaço será superior ao de tantas outras profissões, com ou sem licenciatura, onde as férias são o comum mesito.
Do mesmo modo que também nunca me convencerão do fundamento da redução de horário para um indivíduo na plenitude das suas capacidades e na melhor fase do seu rendimento.
Quando se toca em interesses próprios ou alheios, mas defendidos por convicção, entramos no domínio da clubite aguda que nos tolda a visão.
Eu diria que, se acham que tudo está bem, que nada há para mudar, então, nas próximas eleições votemos em alguém que não tenha qualquer proposta ou que se proponha a manter tudo como está.
Certo é que o caminho que seguimos neste anos de democracia não nos conduziu a um ensino de qualidade, pelo menos a avaliar pelo produto final…
É certo que cada ministro, ao ser empossado, decide deixar a sua marca, virando tudo do avesso, iniciando mais uma das milhentas reformas, baseando-se em teorias as mais das vezes descabeladas, baralhando professores, pais e, principalmente, alunos.
Mas não seria bom que os docentes olhassem seriamente e com desapego individualista para si mesmos? Porque é que, para os docentes, os males do ensino estão sempre nos outros?
Creio não andar longe da verdade se disser que tem existido uma análise muito parcial da realidade sempre que os organismos representativos dos professores se pronunciam sobre ensino.
Mas voltarei a este tema, com mais detalhe e casos concretos.
Por agora, e a propósito do comentário consternado da Salomé, fiquemos por aqui.

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