quarta-feira, abril 12, 2006
Já bateu no seu filho hoje?
Alguns comentários e mails simpáticos que recebi dizem-me que este blog não é apenas meu. De certo modo estabeleceu-se aqui uma amizade virtual, feita de algumas bulhas (como com o passageiro da noite). Em breve aqui explicarei o que me levou a querer parar.
De momento, traz-me aqui a célebre decisão do Supremo Tribunal de Justiça que considera que bater numa criança, deficiente mental, ou fechá-la num quarto escuro, é um comportamento aceitável ou mesmo recomendável.
Mais, não o fazer poderá até configurar um crime de negligência!!!
A questão que se impõe é esta: quantos tabefes terei de dar no meu filho para não ser considerado negligente? E será que fechá-lo num quarto escuro será suficientemente adequado para obter um cidadão correctamente punido? Não será mais adequado um cubículo diminuto, bafiento, onde o puto nem se possa sentar?
O caricato da decisão não é inédito: há alguns anos, o mesmo STJ absolveu dois violadores de uma turista, por considerarem que esta os tinha provocado ao passear de mini saia «em pleno território de caça do macho ibérico» (estou a citar o acórdão).
Impõe-se agora que o STJ produza doutrina quantificando os tabefes, pontapés ou mesmo alguns murros, fazendo-os equivaler aos comportamentos dos miúdos.
Por exemplo: não comer a sopa – uma bofetada. Chegar a casa com as sapatilhas estragadas – dois murros. Ter uma negativa na escola – meia hora no quarto escuro. Duas negativas – uma hora. Não utilizar o autoclismo – dois pontapés.
Devem suas sapiências, prudentíssimos e experientes magistrados, também neste caso definir o máximo e o mínimo das penas a atribuir portas a dentro, na nossa gestão doméstica, sob pena de ficarmos todos numa imprevisibilidade jurídica pouco compatível com o estado de direito que estes senhores são pagos para defender.
E agora despeço-me, vou para casa ver se descubro se o meu puto cometeu algum acto punível à face de tão douta doutrina: tem de ser antes de almoço, não vá a gente enervar-se e ter algum problema digestivo.
Fica-me, apesar de tudo, uma angústia quase metafísica: quando for adulto, tiver vida própria e estiver longe de mim, como é que se comportará correctamente sem a ameaça da minha paternal punição?
Nota: e os professores? Também podem bater, na sua alta missão de educadores?
De momento, traz-me aqui a célebre decisão do Supremo Tribunal de Justiça que considera que bater numa criança, deficiente mental, ou fechá-la num quarto escuro, é um comportamento aceitável ou mesmo recomendável.
Mais, não o fazer poderá até configurar um crime de negligência!!!
A questão que se impõe é esta: quantos tabefes terei de dar no meu filho para não ser considerado negligente? E será que fechá-lo num quarto escuro será suficientemente adequado para obter um cidadão correctamente punido? Não será mais adequado um cubículo diminuto, bafiento, onde o puto nem se possa sentar?
O caricato da decisão não é inédito: há alguns anos, o mesmo STJ absolveu dois violadores de uma turista, por considerarem que esta os tinha provocado ao passear de mini saia «em pleno território de caça do macho ibérico» (estou a citar o acórdão).
Impõe-se agora que o STJ produza doutrina quantificando os tabefes, pontapés ou mesmo alguns murros, fazendo-os equivaler aos comportamentos dos miúdos.
Por exemplo: não comer a sopa – uma bofetada. Chegar a casa com as sapatilhas estragadas – dois murros. Ter uma negativa na escola – meia hora no quarto escuro. Duas negativas – uma hora. Não utilizar o autoclismo – dois pontapés.
Devem suas sapiências, prudentíssimos e experientes magistrados, também neste caso definir o máximo e o mínimo das penas a atribuir portas a dentro, na nossa gestão doméstica, sob pena de ficarmos todos numa imprevisibilidade jurídica pouco compatível com o estado de direito que estes senhores são pagos para defender.
E agora despeço-me, vou para casa ver se descubro se o meu puto cometeu algum acto punível à face de tão douta doutrina: tem de ser antes de almoço, não vá a gente enervar-se e ter algum problema digestivo.
Fica-me, apesar de tudo, uma angústia quase metafísica: quando for adulto, tiver vida própria e estiver longe de mim, como é que se comportará correctamente sem a ameaça da minha paternal punição?
Nota: e os professores? Também podem bater, na sua alta missão de educadores?