segunda-feira, janeiro 23, 2006

 

Venceu o silêncio

Que o silêncio é de ouro já por cá se sabia. Que dava vitórias eleitorais, é novidade!
Diga-se, em abono da verdade, que a estratégia de Cavaco foi bem montada, atestando um enorme profissionalismo quer do candidato quer de quem o apoiou de perto. Valha-nos isso, que dá sempre gosto ver um trabalho bem feito.
Não, este texto não será choro de carpideira nem ode de convertido.
Antes tentativa de antecipação dos dias vindouros.
No meio disto tudo, fica-me algum consolo. Quase que diria que, não fossem as suas ideias, contra as quais já aqui me manifestei, e estaríamos perante a vingança dos párias.
Cavaco fez-se a si próprio. Chegar à posição universitária que atingiu sem ser filho de Prof., sem um nome sonante que o ligue à classe dominante do anterior regime ou da grande burguesia, seria por si só um feito assinalável.
Ir ao congresso da Figueira fazer a rodagem do BX – sim, um Citroën, nem sequer era um carro alemão desses com carisma – e sair de lá com a liderança do partido, ascendendo por essa via à governação, é uma conquista digna de nota.
Agora chega ao mais alto cargo da nação, ganhando pessoalmente as eleições.
A sua origem social nunca lhe será perdoada pelos bem nascidos. Veja-se a atitude de Marcelo Rebelo de Sousa, filho de um alto dignitário do tempo da outra senhora. Para eles será sempre um outsider que terão de engolir e que, ainda por cima, se chama Silva.
Ora depois deste relambório, inspirado no velho princípio de que não há acidente nenhum, por mais desastroso que seja, do qual um homem inteligente não possa tirar proveito, vamos então às consequências.
A mais relevante, na área que me interessa, prende-se com a incapacidade que o Psd vai enfrentar de fazer oposição demagógica ao governo. De facto, o chefe da oposição passou a ser Cavaco e o seu silêncio cúmplice está garantido pelas razões que explanei no final do penúltimo post. Marque Mendes ganhará em se remeter também ao silêncio, adoptando uma atitude, ainda que hipócrita, de colaboração com o governo.
Quem futuramente ganhará com este bloco central é Jerónimo de Sousa. Figura nitidamente popular, poderá continuar a acrescentar votos ao crescendo que tem vindo a manifestar, endurecendo a luta nas ruas e no parlamento.
Louçã que se cuide...

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