terça-feira, setembro 13, 2005

 

Os chineses da Europa (2)

As previsões concretizaram-se: os alemães da Volkswagen decidiram construir o novo modelo na fábrica de Palmela.
Pelos vistos, os trabalhadores alemães não aceitaram a redução de 10% nos salários que lhes era proposta.
Desta vez correu bem: a crise do grupo Volkswagen impede a criação de raiz de uma fábrica num país do antigo Leste, recorrendo assim a uma estrutura já rentabilizada pelo monovolume. O facto de os trabalhadores portugueses ganharem um terço do salário alemão teve um peso significativo na decisão.
Mas, para avivar a curta memória nacional, recordo que, quando Bagão Félix era ministro do Trabalho – antes de se dedicar a martelar as contas públicas – o director da fábrica de Palmela veio ameaçar que encerrava as instalações se o novo Código do Trabalho não se aligeirasse no que respeita às garantias dos trabalhadores.
Afinal, mesmo que estivesse em vigor a antiga legislação laboral, escreveu-se direito por linhas tortas.
Tudo isto levanta outra questão que merece uma reflexão mais detalhada: até que ponto é que socialmente a Europa vai aguentar esta avalanche de eliminação de postos de trabalho?
É que, como pude constatar nestas férias de Agosto, o encerramento por deslocalização não afecta apenas Portugal, estando a provocar situações idênticas em França e na Alemanha.
Estou convencido que a crise gerada pelo preço do petróleo irá, mais cedo ou mais tarde, conduzir a um novo proteccionismo da União Europeia, sob pena de, não o fazendo, surgir gradualmente uma situação social muito parecida com a da Europa do princípio do século passado.
Bem podem acenar-nos com as virtudes do modelo americano e com a inevitabilidade da sua adopção na Europa: não só não é inevitável como dificilmente se vislumbram as virtudes de um modelo que aceita de bom grado a existência de 10% da população abaixo do limiar da pobreza.

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