sexta-feira, agosto 26, 2005

 

Regresso (2) A Alemanha

É frequente ouvir da boca dos portugueses que se deslocam ao estrangeiro, que isto aqui é uma choldra e que lá fora é que é bom. Muitas vezes esta afirmação mais não é do que a manifestação de um certo provincianismo de quem visita em grupo, numa viagem de agência, duas ou três metrópoles europeias. Nestas viagens não conhecem as pessoas, as zonas periféricas ou as rurais. Depois de estarem numa cidade com mais de cinco milhões de habitantes concluem que lá fora é que é bom.
Como é que alguém, que da França conhece Paris e os seus monumentos, pode saber que as fábricas de calçado francesas estão a encerrar por “deslocalização”? Ou que dois terços da França estão em seca severa? Seria a mesma coisa que alguém achar que ao visitar Lisboa ficou a conhecer Portugal e a compreendê-lo.
Tenho sempre receio que as minhas interpretações resultantes da vadiagem pela Europa sejam classificadas no mesmo sentido.
Com algumas interrupções, há cerca de vinte anos que me vou perdendo pelas estradas europeias, sem rumo nem obrigação de permanência num qualquer lugar, com a liberdade que me dá o facto de trazer a casa às costas.
Este ano, tinha como principal objectivo conhecer o Sul da Alemanha e ir a Auschwitz.
Passado que foi o primeiro impacto da simpatia fria dos germânicos, comecei a detectar as causas dos sintomas que estão à vista.
A excelente organização em todos os domínios, a qualidade de tudo o que se produz ou dos serviços que se prestam, é o resultado da forma como se encara o trabalho, o desempenho de funções, em suma, uma postura perante a vida.
Os alemães e os austríacos são provavelmente os melhores condutores do mundo: utilizam sempre o pisca, respeitam os limites de velocidade e os sinais de trânsito e facilitam a entrada nas auto-estradas mudando de faixa sempre que possível.
Fazem-me inveja os equipamentos sociais, os espaços urbanos não só arrumados mas também embelezados.
Nota-se que quem comanda os destinos daquele país e das cidades tem consciência do que é o serviço público, do que é servir a comunidade.
Fica-me a ideia que não adianta pedir favores que atropelem a legalidade ou prejudiquem o bem comum: leis bem feitas e bem assimiladas por todos conduzem a uma adesão espontânea.
Um exemplo de rigor e organização é a entrada nos castelos do Luís da Baviera, Neuschwanstein: quando compramos o bilhete, este tem a hora de entrada para cada grupo de vinte pessoas. O horário é rigorosamente respeitado apesar das cerca de três horas de espera.
Um país assim organizado e com uma atitude global assim consolidada terá sempre futuro, independentemente das vicissitudes de percurso.No entanto, nota-se tanto nos alemães como nos austríacos aquilo que já tinha reparado nos franceses: uma certa contenção, um certo receio do futuro imediato em termos económicos, bem patente na pouca percentagem de veículos de último modelo que circulam nas estradas.
Já agora, fiquem a saber que, excluindo os combustíveis que são bastante mais caros do que entre nós, tudo é ao mesmo preço ou até mais barato do que em Portugal, particularmente se recorrerem a supermercados.

|

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?