quinta-feira, abril 21, 2005

 

Os espanhóis libertaram-se, nós não

As portuguesas vão interromper a gravidez a Espanha (as que podem, claro).
Foi hoje aprovado o casamento entre homossexuais, obviamente também em Espanha.
Creio que quem conhece os nossos vizinhos não terá dúvidas acerca da sua religiosidade. Mas libertaram-se cedo do poder castrador e controleiro da Igreja, ao contrário de nós, que continuamos a dar voz a beatos falsos, adeptos dos vícios privados escondidos sob uma capa ténue de públicas virtudes.
São de Antero de Quental (séc. XIX) as palavras que se seguem num texto intitulado Causas da Decadência dos Povos da Península. O texto completo pode ser lido aqui
LINK.
Tal é uma das causas, se não a principal, da decadência dos povos peninsulares. Das influências deletérias nenhuma foi tão universal, nenhuma lançou tão fundas raízes. Feriu o homem no que há de mais íntimo, nos pontos mais essenciais da vida moral, no crer, no sentir – no ser: envenenou a vida nas suas fontes mais secretas.
Essa transformação da alma peninsular fez-se em tão íntimas profundidades que tem escapado às maiores revoluções; passam por cima dessa região quase inacessível, superficialmente, e deixaram-na na sua inércia secular.
Há em todos nós, por mais modernos que queiramos ser, há lá oculto, dissimulado, mas não inteiramente morto, um beato, um fanático ou um jesuíta! Esse moribundo que se ergue dentro em nós é o inimigo, é o passado. É preciso enterrá-lo por uma vez, e como ele o espírito sinistro do catolicismo de Trento.
De então para cá, ficou dogmaticamente estabelecido no mundo católico que o homem deve ser um corpo sem alma, que a vontade individual é uma sugestão diabólica, e que para nos dirigir basta o Papa em Roma e o confessor à cabeceira. Perinde ac cadaver, dizem os estatutos da Companhia de Jesus.

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