quarta-feira, março 30, 2005

 

A ler repetidamente

Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou ainda ama .
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão, para os fracassos a oportunidade, para os amores impossíveis tentativa.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Não deixes que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.Desconfia do destino e acredita em ti.
Gasta mais horas a realizar do que a sonhar... A fazer que planear... A viver do que a esperar...
Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Luís Fernando Veríssimo
Encontrado no LUMINESCÊNCIAS

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