quinta-feira, janeiro 20, 2005

 

Texto politicamente incorrecto?

Não é fácil escrever nos tempos que correm.
Não é por falta de temas: creio que é por excesso.
Hoje sim, pode dizer-se que existe excesso de ruído. Fala-se muito e diz-se muito pouco.
Nem me pronuncio sobre os anúncios quotidianos de grandes medidas “decididas” agora mesmo por este governo de gestão. As afirmações são de tal modo fantasiosas e ridículas, que muito provavelmente se vão virar contra quem as profere.
Mas acho que esta febre do disparate se pegou ao mundo dos blogs e, com certeza, eu serei um dos exemplos. Como não sou masoquista, tratemos do que os outros dizem.
Afirma-se, por um lado, que é necessário diminuir as despesas do Estado. Neste ponto parece que quase todos estão de acordo. Diz-se, por outro lado, que existem institutos e organismos duplicados, com as mesmas funções e outros completamente inúteis. Dá-se até como exemplo o obeso Ministério da Agricultura.
A consequência lógica seria encerrar o que é supérfluo, rentabilizar os recursos humanos e, consequentemente, pôr termo a contratos de arrendamento dos edifícios assim tornados inúteis e a todos os encargos que acarretam.
Isto, meus amigos, significa despedir funcionários públicos que não possam ser reaproveitados numa reestruturação geral da administração pública.
Mas é aqui que mesmo nos blogs surgem as invectivas. Exactamente, por vezes, no mesmo blog onde em simultâneo se defende o emagrecimento do Estado e a manutenção dos postos de trabalho.
A actuação recente tem-se limitado a políticas de diminuição de benefícios sociais, designadamente no domínio da assistência médica e medicamentosa, entres outras bem conhecidas.
Do meu ponto de vista, e corrijam-me se estou errado, ficaria mais barato ao Estado pagar reformas antecipadas e subsídios de desemprego aos funcionários dos organismos extintos, do que manter a situação tal como está. Sempre se poupava nos edifícios, segurança, manutenção, veículos e respectivos condutores, etc.
Dir-me-ão que esta posição é reaccionária. Que é contrária aos princípios correntemente defendidos neste blog.
Eu diria que é realista.
A opção consiste em manter estruturas que parasitam os nossos impostos e continuar a cortar em tudo quanto é política social, ou, pelo menos, manter o que se conseguiu construir depois de 1974. Há aqui um conflito de valores: entre o direito ao trabalho de alguns e os direitos que afectam todos.
Do meu ponto de vista, não vejo qualquer razão para continuar a sustentar com os meus impostos, organismos que não só custam dinheiro, como são, em si mesmos, causa de paralisação do funcionamento da sociedade, por excesso de burocracia.
Ponhamos os pés no chão, não se trata de despedir pessoal das finanças ou hospitais, onde há carências: trata-se de eliminar aquilo que não tem qualquer razão de existir.
Creio que foi no Jaquinzinhos que li, há cerca de meio ano, uma descrição exaustiva do exemplo que refiro (Ministério da Agricultura). Tive de reler porque até fiquei incrédulo: aquilo parece a gaiola das malucas.

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