domingo, dezembro 19, 2004
O pesadelo de Sócrates
Tinha ganho as eleições com maioria absoluta e pusera em prática um projecto que acarinhava desde que era líder do partido: trazer para o governo a excelência da inteligência portuguesa, independentemente da sua filiação partidária.
De ministros a secretários de estado, tudo era a nata da competência reconhecida.
Conseguira mesmo, a muito custo, trazer do estrangeiro alguns que tinham fugido à mesquinhez da mediocridade, da intriga e da falsa importância. A maior parte deles aceitara mesmo com prejuízo das remunerações a que estavam habituados.
Mas agradara-lhes o desafio de constituir um governo que em vez de intuitos partidários perseguisse objectivos verdadeiramente nacionais, sem se preocupar com eleições e sondagens. Portugal bem precisava…
Foi então que Sócrates acordou, banhado em suor, quase caindo da cama.
Tinha à porta uma imensa manifestação vociferante de criaturas empunhando bandeiras vermelhas e cravos, exigindo a retribuição do esforço de campanha, de anos a dar e levar palmadinhas nas costas. Exigindo o que consideravam um direito adquirido: o de serem gratificados com um lugarzito, uma fatiazinha do orçamento do Estado. Nem lhes interessava muito o trabalho a desempenhar, que nestas coisas o cargo basta-se a si mesmo.
Queriam lá saber da competência, da adequação da experiência à função: era apenas uma questão de gratidão eleitoral.
Incrédulo, foi até à janela e mais não viu que um país de Inverno tardio, mergulhado num marasmo acomodado, enterrando-se na proporção directa da falta de coragem e imaginação.
Respirou aliviado: estava tudo dentro da normalidade…
De ministros a secretários de estado, tudo era a nata da competência reconhecida.
Conseguira mesmo, a muito custo, trazer do estrangeiro alguns que tinham fugido à mesquinhez da mediocridade, da intriga e da falsa importância. A maior parte deles aceitara mesmo com prejuízo das remunerações a que estavam habituados.
Mas agradara-lhes o desafio de constituir um governo que em vez de intuitos partidários perseguisse objectivos verdadeiramente nacionais, sem se preocupar com eleições e sondagens. Portugal bem precisava…
Foi então que Sócrates acordou, banhado em suor, quase caindo da cama.
Tinha à porta uma imensa manifestação vociferante de criaturas empunhando bandeiras vermelhas e cravos, exigindo a retribuição do esforço de campanha, de anos a dar e levar palmadinhas nas costas. Exigindo o que consideravam um direito adquirido: o de serem gratificados com um lugarzito, uma fatiazinha do orçamento do Estado. Nem lhes interessava muito o trabalho a desempenhar, que nestas coisas o cargo basta-se a si mesmo.
Queriam lá saber da competência, da adequação da experiência à função: era apenas uma questão de gratidão eleitoral.
Incrédulo, foi até à janela e mais não viu que um país de Inverno tardio, mergulhado num marasmo acomodado, enterrando-se na proporção directa da falta de coragem e imaginação.
Respirou aliviado: estava tudo dentro da normalidade…