quarta-feira, dezembro 22, 2004

 

O Filhinho do Filho da P. do 5º-A (3º Episódio)

O Filho da P. do 5º-A tem um filhinho.
Moçoilo com 16 anos, gordinho, calçado e roupa de marca, invariavelmente mastigando pastilha elástica de boca aberta, é a luz dos olhos do Filho da P. do 5º-A.
E a discussão da noite passada lá no apartamento, os berros do paizinho, têm um fundamento grave: as notas do filhinho.
Uma desgraça!
Como é possível que as professoras, sim, essas ressacadas, não reconheçam os verdadeiros talentos do filhinho!
Ele é que não tem tempo, ou iria lá pôr os pontos nos is àquela cambada.
Mas deixa, que no fim do ano hão-de passar uma semana em reuniões, só para justificarem as reprovações da criança.
Ainda por cima, passam a vida a dizer que o filhinho é mal educado, que perturba as aulas, que até já mandou um contínuo à merda quando foi intimado a deitar no caixote do lixo os invólucros do chocolate, etc. E depois querem que lá vá falar com a directora de turma, como se não tivesse mais nada que fazer.
Isto é uma má vontade generalizada.
Já quando o filhinho era pequenito, por volta dos quatro anos, havia uns mete nojo nos restaurantes que punham uma cara esquisita só porque a criança corria, gritando desalmadamente por entre as mesas e dando encontrões nos empregados. Uns invejosos, que gostavam de ter assim um rebento cheio de saúde, anafadinho.
Um manancial de coerência, que se comporta da mesma maneira, independentemente de estar numa sala de aula ou no recreio e trata toda a gente da mesma maneira, seja professor seja colega.
Sim, anafadinho, que a má vontade já tinha chegado à classe médica.
Então não tinha havido um estafermo de um médico que lhe tinha dito que o filhinho apresentava sintomas graves de obesidade? Que comia chocolates e fritos em excesso!
Que não podia ficar tanto tempo sentado ao computador!
O computador!!!
Ele que fica ali horas tão sossegadinho, quietinho, entretido com os jogos. Tão bonzinho que os deixa passar a noite a ver televisão sem os incomodar…
E os vizinhos lá iam ouvindo: é para isto que ando a pagar impostos? Quem é que essas gajas pensam que são? Tu é que és um molenga, que se fosse eu tratava-lhes da saúde.
Principalmente à tipa do Português.
Era preciso descaramento: o miúdo tem tanta piada com aquela coisa dos bués!
É certo que às vezes não o entende mas, caramba, ele não é professor de Português… A gaja que ganha ordenado que o entenda.

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